segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A surpresa do 35mm





Ainda estou no começo desse sonho de fazer filmes, vídeos... imagens em movimento. Mas o final do ano me reservou algo muito especial. Mais precisamente na terça, 16 de dezembro de 2008, tive uma grande surpresa. Tudo foi muito bem planejado por pessoas queridas e que trabalham comigo.

Ocorre que no ano que findou, como já escrevi por aqui outras vezes, fiz minha estréia no 35mm. Foi o período que ocorreu o lançamento do curta “Fome de quê?” que graças ao empenho de uma generosa equipe – de produção e finalização - conseguiu chegar à tela. Após as gravações veio à captação para o transfer e tivemos que aguardar esse processo - passagem de vídeo para a película. Até então realizamos projeções em MINI DV e DV CAM.

Eu já estava muito angustiado e louco para ouvir o barulho do projetor com 35mm rodando. E não é questão de defesa deste ou daquele suporte de projeção. É questão de sentimento mesmo. Não nego que quando posso projetar um Super-8, que rodamos certa feita em Santa Maria, ou que estou em sessões de filmes em 16mm ou Super-8, ou ainda quando posso estar junto ao projetor 35mm do Rodacine, durante o Festival de Cinema de Santa Maria, o contato direto da película no projetor detona uma grande dose emoção.

Pois depois desse preâmbulo digo: não é que caí numa “cilada” perfeita.

Gosto muito de filmes antigos principalmente os que mostram Santa Maria, minha cidade natal, pela qual sinto muito orgulho. Pesquiso e estou sempre atrás de novas informações e filmes que possam ser encontrados. O próprio “Fome” revela isso já que na abertura temos uma cena dos anos 1950 de Santa Maria, filme gentilmente cedido pela Casa de Memória Edmundo Cardoso.

Então ocorre que meu amigo Gerson Rios Leme, autor da trilha e de desenho de som deste e outros trabalhos que dirigi, me ligou e disse que um senhor tinha encontrado um filme antigo e que havia falado sobre meu interesse por isso. Depois de combinarmos tudo e de algumas ligações telefônicas, na terça (referida no primeiro parágrafo) pela manhã o Gerson e eu fomos até a sala 01 da Movie Arte Cinemas, do Santa Maria Shopping, onde o filme seria projetado.

Chegando lá o Vilson Saldanha, projecionista que tem uma grande trajetória de dedicação ao seu ofício, nos aguardava, juntamente com mais duas pessoas da equipe do cinema. Conversamos rapidamente e ele me fez entrar e sentar. Estávamos na sala apenas o Gerson e eu. O Vilson se dirigiu à cabine de projeção. Estranhei-o não me convidar num primeiro momento para ir até a sala de projeção ver a película. Outras vezes que encontrei filmes antigos ia até esse local – em diferentes cinemas que o Vilson trabalhou - para ver o estado do filme. Além do mais tenho um fascínio por cabines de projeção. Esse lugar sagrado de onde se revelam sensações e lugares inesquecíveis. Naquele momento não pensei em ir até a sala.

Apagaram-se as luzes e começou a projeção. Lá estavam os frames do “Fome de quê?”, na tela de um cinema de Santa Maria. Fui as lágrimas. Que grande dia! Antes, em junho de 2008, o filme teve sua sessão de lançamento e posteriormente havia estado em cartaz, mais de duas semanas na cidade, em sessões em vídeo, antecedendo o longa-metragem “Valsa para Bruno Stein”, de Paulo Nascimento.

Terminada a projeção, a cortina do fundo se abriu e minha filha, Maria Luiza, veio ao meu encontro correndo para abraçar-me. Realmente, foi demais. Estará guardado na em minha retina para sempre.

Pessoas queridas e que sabiam da importância desse curta para minha vida, vieram logo após. A Eluza Rafo, companheira que também sonhou muito com esse dia e que acompanhou toda a maratona do filme sendo também produtora executiva e autora do conto no qual o roteiro foi baseado e que teve a idéia da surpresa. O Christian Lüdtke, meu grande amigo, diretor de fotografia e também produtor executivo, com o qual passei todos os processos de realização. A Juliane Fossatti, que tem sido fundamental na produção e distribuição de meus recentes projetos, e que fez o contato com o Beto Rodrigues e com o Cícero Aragon (diretores da Movie Arte) para liberarem a sala para a projeção, os quais agradeço muito. Também estava lá a amiga Andréia Zanoello, esposa do Christian, e que tem acompanhado esse nosso sonho de alguns anos de fazer filmes e vídeos. Também foi uma honra ter o filme sendo projetado pelo Vilson Saldanha que se somou aos demais para esse marcante momento.

Enfim... Esse é um texto muito especial de tom emotivo, confessional, quase umbilical. Perdoem-me. Passados alguns dias posso reviver tudo e saber que isso é para sempre.

Já havia escrito um texto aqui no blog, em junho de 2008, sobre o sentimento que tenho pelo “Fome” e isso é mágico. Consciente e inconscientemente.

Em tempo. Mais uma vez. Obrigado por esse momento e um abraço a todos da equipe!!!